terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Anos 1980 - Três Bandas

Os anos 80 do rock brasileiro se tornaram míticos porque, ao lado das grandes estrelas, que vendiam centenas de milhares de cópias de seus LPs e EPs, pululavam dezenas de outras bandas e intérpretes de qualidade, que, no entanto, ficaram em segundo plano. Era essa multidão talentosa que dava ao público – tanto na época como de hoje – a sensação de que alguma coisa, quiçá um movimento, se fazia presente na música durante a redemocratização do país. (Arthur Dapieve)

Começo este blog com esta citação do jornalista Arthur Dapieve para ressaltar a importância das “periferias” do rock nacional. Santa Catarina é um exemplo disto. Apesar de poucas bandas tiveram reconhecimento fora de nosso estado, muitas fizeram e fazem acontecer movimentos musicais catarinenses.
Inicio com a década de 1980, pois foi o tema de minha dissertação de mestrado, sendo assim a década que tenho mais propriedade em falar. Escolho três bandas para apresentar um pouco este período, três bandas que sempre são lembradas com muito carinho pelo público e que, quando retornam lotam as casas onde se apresentam. Expresso RuralTubarão e Decalco Mania, esta última, infelizmente, nunca retornou suas atividades. Outro fator importante para a escolha destas bandas é a amizade e a rede social criada entre elas.
A amizade entre as bandas e, assim, a criação de uma rede de sociabilidade foi construída principalmente através do encontro em shows e trocas entre as bandas. Esta rede foi construída entre eles de forma harmônica com as bandas ajudando uma à outra, ou até mesmo, homenageando uma banda amiga. Em seu segundo disco, o Expresso demonstra grande interesse na tribo roqueira 48. Prestam homenagens aos seus amigos de outra banda que já haviam tocado juntos, no caso a Decalco Mania. A homenagem está presente no título da canção Decalcomania . Além de várias referências que, segundo Volnei Varaschim, só eles mesmos entendem: 
DECALCOMANIA 
   Posso até ser o culpado
Mas ando ocupado demais pra te ver
Não posso ficar do teu lado
Mas em tudo que eu faço eu pinto você.
Ando preocupado com nada, não
Deixe esse processo rolar
Tudo isso é parte de um plano pra te conquistar.     

É bom que você apareça
antes que aconteça de eu te encontrar
Viver é um lance de magia, Decalcomania.

Pode me chamar de lunático
Apesar de pirático eu quero você
Dizem que ando fora do mundo
Isso é questão de harmonia.
Inovidável garantia
Tua companhia me faz decalcomaniar.
viver é nascer todo dia, é viver
Sempre foi e será questão de mania
Decalcomania.

 Um grande fator que estimulou o aparecimento das bandas e as trocas entre elas foram os festivais. Uma boa forma de divulgar os trabalhos para bandas pouco conhecidas, eram feitos shows em conjunto para uma maior arrecadação de público. O show mais antigo que encontrei com algumas destas bandas aconteceu em 1982, no estádio Orlando Scarpelli, com as bandas: Expresso Rural, Ratones, Convidado Especial Banda de Nêutrons. Esta última, uma banda de rock progressivo que tinha como um de seus integrantes Márcio Corrêa, posteriormente se tornou tecladista do Expresso Rural.

Durante os anos de 1980, vários destes festivais aconteceram com as bandas citadas, mas alguns tiveram maior divulgação na mídia com uma visibilidade maior pelo público, até mesmo, chamando bandas de renome nacional para crescer ainda mais o público, como no caso do Antena 1 Rock Concert. Promovido, obviamente, pela rádio Antena 1, teve a participação das bandas catarinenses: Burn, Alta Voltagem, Têmpera, Decalco Mania, Olho D´Água e Capuchon, além dos cantores Beto Mondadori Maurício.
Das bandas nacionais, ressalto as mais famosas, RPM, Made In Brasil Gang 90 e os cantores e Kiko Zambianchi, todos de São Paulo, e Lobão do Rio de Janeiro. Influenciado pelo Rock in Rio, este festival durou dois dias e nele os músicos trocaram experiências e perceberam a postura no palco dos músicos de renome nacional, criando-se assim, uma rede de sociabilidades entre os músicos por todo o Brasil. Neste mesmo ano o Decalco havia feito uma mini turnê no Rio de Janeiro, excursionando com a Barão Vermelho ainda com Cazuza nos vocais, deste modo, já era uma banda com contatos fora de Santa Catarina.

Percebendo um público cada vez maior escutando as músicas com levada mais pop-rock, feitas para as mídias, algumas cidades apostam neste público. Em Florianópolis, as praias foram palcos para alguns destes festivais, sendo o maior deles a Abertura do Verão. Acontecendo na praia da Joaquina, teve grande repercussão na mídia, inclusive o apresentador, colunista do jornal O Estado na época, Cacau Menezes, realizou sorteio de bicicleta para melhor performance entre um rapaz qualquer do público que estivesse de cueca verde e uma moça com calcinha roxa, para dar um clima de descontração no espetáculo. Importante destacar que este festival foi voltado para bandas locais, organizado pela prefeitura de Florianópolis. Apenas Sandra de Sá foi a atração nacional, porém, os elogios de Rosane Porto e de Cacau Menezes, os dois no jornal O Estado, foram para as bandas Decalco Mania Ratones, ambas do mundo 48.
Outra forma de vencer as dificuldades encontradas era através da gravação e divulgação de um disco em conjuntos com outras bandas. Assim, os dois grupos 48, Tubarão Expresso, optaram por gravar cada grupo um lado do disco, lançado em 1988. O terceiro disco do Expresso era para chamar-se Ímpar e ser apenas do Expresso, assim como o Tubarão estava gravando seu 1º LP solo, mas com a crise afetando a indústria fonográfica no Brasil, este teve que ser o resultado.
Há mudanças significativas no Brasil nesta época, pois não conseguia driblar as dificuldades de uma inflação astronômica, com a falta de incentivo do governo e com a mídia no país ressaltando o esporte com a Copa do Mundo no México. Além disso, as casas de shows abriam mais espaços para bandas nacionais e diminuíam para as locais. Com isso, o grupo não tem como lançar este seu terceiro disco imediatamente após sua chegada no Brasil. Mas, com a sanção de uma nova lei para incentivar a cultura, a conhecida Lei Sarney, estimulando empresas privadas a financiar projetos culturais em troca de diminuição nos impostos, o disco vai para a prensa apenas em 1988. Cada banda, com um lado do disco, recebeu apoio através da Lei Sarney, do Grupo Amaury73. Quando lançado o disco, o grupo Tubarão estava com uma nova formação, com destaque para o guitarrista Murillo Valente. Este, um ex-Decalco Mania, banda homenageada pelo Expresso em seu segundo disco.

Trocas de músicos entre estas bandas também foi uma constante, e até mesmo trabalhos paralelos às bandas. Murillo Valente pode ser considerado o primeiro a fazer esta transição entre as bandas. Foi um dos membros fundadores do Decalco Mania e após o fim desta, começou a tocar com a Tubarão. Maurício Cavalheiro, cantor com carreira solo em Florianópolis, cantou no Expresso e no último disco da Tubarão. Após a saída de Daniel Lucena, Norton Malkovietch  assume os vocais para a gravação do disco, mas sai da banda logo depois, deixando em seu lugar Maurício Cavalheiro que assume os vocais nos shows. Neste período, há a formação da banda Get Back, tendo como membro fundador Paulo Back, baixista do Expresso, além de Robson Dias, também baixista, procedente das bandas MoçambiqueObjeto de Prazer Decalco Mania. Como o contrabaixo é um instrumento apenas para a base das músicas, Paulo assume a guitarra e convidam Ricardo Malagolli para assumir a bateria. Inicialmente foi uma banda de covers. Os dois fundadores eram grandes fãs de Beatles, mas depois fizeram composições próprias, sempre influenciadas pelo fabfour.
Expresso Rural
Decalco Mania
Tubarão

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